Rabisqueira feminina de Francisco Milhorança |
É uma espera - do quê, não sei. Talvez do tempo que se ergue diante dos
meus pés. Da ausência que se transforma em pólos opostos, do ir, desejar viver
- mais que isto. Entendo como o encontro que se faz da mais alta perfeição que
está à espreita, no limite, no abismo do meu corpo.
Intensamente, há uma entrega lenta que se faz de desejos e crenças. A
multiplicidade das coisas que existem não faz sentido. É o mundo do caos que se
estilhaça como cacos de vidros, transparentes e super delineados, que deixam
passar pelas suas pequenas regiões intactas o aspecto verdadeiro do mundo que
se mostra em sua total superficialidade.
É sentir-se o personagem principal do universo, ao passo que o redemoinho
de atos se acumula e pede uma resolução urgente. Eis que surge a estranha
urgência de tudo o que move e atormenta ou seria, de tudo o que ataca, com
muita força, meu espírito intocável?
Seria a anulação de toda e qualquer
sensação do toque, do movimento estridente da pele e da intenção de dar um nome
à estranha leveza que se acumula aos poucos, como o grito asfixiante que sai
da garganta quando não há rumor de voz levado pelo vento. Suponho que é a sensação mais estranha que se pode sentir. Uma espécie de
não existir como humano e tocável, apenas. Tudo se transforma no mundo fantástico
e irreal: o quadro perfeito pintado por uma mente fiel criadora do interior que
se mostra para os que se vêem como os portadores da sensibilidade do mundo.
Escuto
meu grito interior: “Sou criadora, pintei a imagem, como me visto, como me vejo
e como sou diante dos olhos das pessoas que me espreitam diariamente: uma personagem de órbitas." Deleito-me com a idéia que existe a sutil
diferença das sensibilidades. Sou feita de contrastes, do reflexo, do prisma
que se faz do jogo das cores; da real sensação do toque, do gosto, do olhar, da
expansão do meu corpo.
A trilha que se abre - como posso
chamar minha confusão de palavras e textos que dou formas, delineando o tapete de
detalhes complexos do mundo dos sentidos – é minha forma de existir e a
urgência última do meu ser.
***
Desnudar-se diante de todos é para poucos. Beleza de texto.
ResponderExcluirChico
Me senti leve enquanto lia, como se dominada pela marcação de um ritmo agradável. Adorei.
ResponderExcluirManu Dsouza
"Sou feita de contrastes, do reflexo, do prisma que se faz do jogo das cores; da real sensação do toque, do gosto, do olhar, da expansão do meu corpo." Também me sinto assim, às vezes.
ResponderExcluirbjs, parabéns pelo blog.
Sandra
Estou encantado com teus textos! Parabéns.
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