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Dizem que causo um efeito devastador sobre as palavras; que, quando as
tenho em minhas mãos, o que era apenas o verbo, o adjetivo, o sujeito e seus
predicados, titubeiam a ponto de não mais se compor a leveza dos românticos de
outrora; outros, até murmuram que as tenho encanto. Mas, diria que por elas,
sinto o mais puro castigo em possuir minha alma escrava de suas conjunções e
ser usada constantemente pelas suas transições e suas teias complementares de
equívocos.
Desses redemoinhos que assustam ao olhar mais desatento, falta-lhes a
composição exata, a que passeia pelos ouvidos e delineia o caminho transgressor
dos sublimes ideais que fizeram a vida de grandes homens, mas que também os
amotinaram trancafiados, imersos em seus textos revolucionários.
Mas também dizem muitas coisas obsoletas por ai. É contrastante esse
universo paralelo em que me envolvo, ainda que seja, incontestavelmente,
verdadeiro.
Mas digo e reafirmo obstinadamente que minha absurda incompreensão
perante o mundo me levou ao reino dos textos inventados e frases sem nexo. O
mundo de que falo é o fantasmagórico anônimo sem palavras, da coisa não dita,
ou dita, por si só vazia de explicações, que não sabe mais inventar o que os
grandes sábios consideravam o inventável improvisado: esse tal de universo
complexo, formado da última lâmina cortante das composições.
As palavras sustentam-me, ao passo de se transformarem no abrigo para
as tamanhas faces recortadas que existem em mim. Não só
de cortes e cruzamentos é feita essa divina máscara escondida, mas do submundo
inesgotável, criado a partir do inequívoco reboliço de todos os dias.
Por ora, o leve toque do vento que atiça o folhear vaidoso das árvores,
o simples olhar palpável do animal melancólico e outras coisas que eu não
saberia descrevê-las com tamanha intensidade, constroem o recanto sublime de
palavras entorpecidas, vulgares, diletantes. Mas não só! Rogo pelo barulho
sustenido das rimas, dos versos, da poesia boêmia das utópicas madrugadas dos
poetas embriagados.
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