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quinta-feira, 11 de julho de 2013

O que não se pode inventar, se vive



         
Foto: Sérgio Pavanello
 

                 Mudei-me para um lugar aparentemente tranquilo. Vejo as pessoas em ritmo, que trabalham, passeiam e que conversam sobre coisas do dia a dia. A rua não diz muito dos seus moradores, podem morar aqui todos os tipos humanos – suas ruas estão dentro das casas, acredito - o que confesso que me atrai terrivelmente -, principalmente quando os vejo por trás das vidraças que se esparramam formando uma fina cortina sobre a luz noturna.


            As árvores aqui, assim como a rua, possuem um cheiro agradável e leve, de hortências floridas e dançantes no verão. Mas aqui já é inverno e os caules grossos das árvores úmidas têm cheiro de um vinho jovem e sedutor que fala palavras indiscretas ao fim do dia.



            Dá para escrever daqui, de um janelão de três metros, do alto de um terceiro andar... penso que ele fez a descoberta de mim, como  um casulo que explode todos os dias e não se conhece, é que as vezes não sei escrever ou não desejo saber desse desconhecido, pois existe o medo que bate à porta – que eu não abro! É o hábito de andar e pensar e escrever em volta de janelas que me define como uma pessoa inquieta e sem medidas. Na verdade nem sei ao certo como se define tudo; se às vezes leio sobre algo, me vem uma torrente de dúvidas que me levam para mais aventuras e novos fôlegos que me causam uma animosidade esquisita.


            As histórias se mesclam com partes do que se vive e do que se acredita do real, ou mesmo do que se escreve e tira dos personagens, que falam com o delicado tom da voz humana. Pode ser a ficção que vivemos e damos tons diferentes em outras peles do que não se pode inventar. Nem os começos podem se fartar da grandeza das primeiras experiências.


            Tiro desses delicados e profundos pensamentos o intenso desejo de viver, como os habitantes do mundo que se instalam dentro de mim em estações alternadas, ora gélidas, introspectivas, sozinhas, cultas, ora esfuziantes, loucas, gritantes! que se apresentam para mim como a exclusividade da criação humana; e surge um grito, sonoro e inquieto cada vez que o ser olha bem dentro dos seus olhos brilhantes: “sou eu a criação humana que foge da vida, mas que trama sufocá-la ardentemente”. 

                                                   ***

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