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domingo, 27 de outubro de 2013

Lixo também é arte e sobrevivência

Lixo vira arte - http://www.ynternix.com/arte-do-lixo/



            Lixo comestível, material reciclável, no sentido bom, de se fazer algo que humaniza o trabalho humano; comestível, além do sentido real, também figurado, que se aproveita, transforma, para que outras pessoas descubram que a arte existe de muitas formas, sob olhares mais curiosos que sentem, interrogam, questionam se fixam como a produção de outras pessoas que movem nosso conjunto de percepções - é aí que tudo se mostra com outras colorações e tons nem sempre entendíveis, pois precisamos buscar o que se esconde dentro de nós.


            A 9ª Bienal do Mercosul, realizada em Porto Alegre, de setembro a novembro desse ano, e exibida em vários locais da cidade, é múltipla e variável; é sobretudo uma simbiose multifacetada das inimagináveis pulsões do ser humano em busca de entender, compreender e utilizar as ferramentas que estão nas mãos para se trazer questões vividas no cotidiano, mas escondida pela fumaça do nosso tempo líquido, de tudo que se esvai pelas nossas mãos e não retomamos por falta de tempo, ou mesmo esquecimento.


Lixo Extraordinário, sobre o aterro Jardim Gramacho - o maior da América Latina, na periferia do Rio de Janeiro, filmado de agosto de 2007 a maio de 2009, serviu de inspiração e material para o artista plástico, Vik Muniz, tratar da questão da utilização do lixo como subsídio não só para a arte, mas também para atuar na questão da sobrevivência das pessoas que trabalham como catadoras e na reciclagem do lixo.


            Trago estes dois momentos para ilustrar uma reflexão mais intensa: o lixo das ruas sugere uma arte mais crua, que pode trazer a questão múltipla e inescapável não só humana, mas de todas as coisas; a sobra do que não usamos mais nos põe em contato com materiais que buscam uma linguagem própria para se expressar, talvez moldada por alguma mão livre de escórias e preconceitos. Deixo livre o assunto para intermináveis divagações, destemperos, utopias e distopias - todos têm o direito de pensar e opinar sobre o que bem quiserem, é só colocar a boca no trombone, ou rabiscar algo interminável, porque as ideias e pensamentos dançam como labaredas inacabáveis.


O lixo é algo que move e alimenta a imaginação. Já existem milhares de trabalhos feitos do lixo, artistas que buscam mais que uma causa, famílias inteiras que também sobrevivem do lixo – partem das suas necessidades mais individuais, porém nem sempre aparentes - é que antes disso pode existir uma certa “angústia romântica”, como nos fala Luiz Felipe Pondé, quando questiona o conceito de “justiça social” tão gritado aos quatro cantos do Brasil desde muito tempo. 



Mas é certo que ainda há racionalistas, românticos e outras tipologias do pensamento para definir formas de dar rumo à vida, resolver algo mais elementar, porém, complexo, que diz respeito à capacidade, produção, invenção, a suprema inteligência humana. Artistas e sobreviventes do lixo tragam suas ideias revolucionárias, derramem sua arte pelo mundo e sobrevivam! – que aceitem ou não.

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