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Lixo
comestível, material reciclável, no sentido bom, de se fazer algo que humaniza o trabalho humano;
comestível, além do sentido real, também figurado, que se aproveita, transforma,
para que outras pessoas descubram que a arte existe de muitas formas, sob
olhares mais curiosos que sentem, interrogam, questionam se fixam como a
produção de outras pessoas que movem nosso conjunto de percepções - é aí que
tudo se mostra com outras colorações e tons nem sempre entendíveis, pois precisamos
buscar o que se esconde dentro de nós.
A 9ª Bienal do Mercosul, realizada
em Porto Alegre, de setembro a novembro desse ano, e exibida em vários locais
da cidade, é múltipla e variável; é sobretudo uma simbiose multifacetada das
inimagináveis pulsões do ser humano em busca de entender, compreender e
utilizar as ferramentas que estão nas mãos para se trazer questões vividas no
cotidiano, mas escondida pela fumaça do nosso tempo líquido, de tudo que se esvai
pelas nossas mãos e não retomamos por falta de tempo, ou mesmo esquecimento.
Lixo Extraordinário, sobre o aterro Jardim Gramacho - o maior da América
Latina, na periferia do Rio de Janeiro, filmado de agosto de 2007 a maio de
2009, serviu de inspiração e material para o artista plástico, Vik Muniz,
tratar da questão da utilização do lixo como subsídio não só para a arte, mas
também para atuar na questão da sobrevivência das pessoas que trabalham como
catadoras e na reciclagem do lixo.
Trago estes dois momentos para
ilustrar uma reflexão mais intensa: o lixo das ruas sugere uma arte mais crua,
que pode trazer a questão múltipla e inescapável não só humana, mas de todas as
coisas; a sobra do que não usamos mais nos põe em contato com materiais que
buscam uma linguagem própria para se expressar, talvez moldada por alguma mão
livre de escórias e preconceitos. Deixo livre o assunto para intermináveis
divagações, destemperos, utopias e distopias - todos têm o direito de pensar e
opinar sobre o que bem quiserem, é só colocar a boca no trombone, ou rabiscar
algo interminável, porque as ideias e pensamentos dançam como labaredas
inacabáveis.
O lixo é algo que move e alimenta a imaginação. Já existem milhares de
trabalhos feitos do lixo, artistas que buscam mais que uma causa, famílias
inteiras que também sobrevivem do lixo – partem das suas necessidades mais
individuais, porém nem sempre aparentes - é que antes disso pode existir uma
certa “angústia romântica”, como nos fala Luiz Felipe Pondé, quando questiona o
conceito de “justiça social” tão gritado aos quatro cantos do Brasil desde
muito tempo.
Mas é certo que ainda há racionalistas, românticos e outras tipologias do
pensamento para definir formas de dar rumo à vida, resolver algo mais
elementar, porém, complexo, que diz respeito à capacidade, produção, invenção,
a suprema inteligência humana. Artistas e sobreviventes do lixo tragam suas ideias
revolucionárias, derramem sua arte pelo mundo e sobrevivam! – que aceitem ou
não.
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