Dos sonhos. Das pessoas. Da vida. Há sempre uma intimidade, algo que necessita emergir do interior, para que o mundo conheça seus personagens.
terça-feira, 27 de agosto de 2013
domingo, 25 de agosto de 2013
A crise das relações
Imagem:http://esplendordacriacao.blogspot.com.br/2012/07/depende-das-maos.html |
O Estado
deve fazer o que é útil. O indivíduo deve fazer o que é belo – Oscar Wilde
(Escritor irlandês - 1854-1900)
A humanidade encontra-se em
crise em suas relações humanas. Diante de fatos corriqueiros e, por assim
dizer, cotidianos, os comportamentos são desvendados como as grandes crises nos
divãs dos psicanalistas. Conversas sérias passam despercebidas enquanto o
descaso e o desprezo pelos idosos, crianças, mulheres e homossexuais, além do
desrespeito mútuo, aceleram o processo de desigualdades e tomam o palco na
insustentável tragédia da vida. Poucos são os que conseguem escapar e não serem
notados ou sacrificados pela imposição sórdida dos que reclamam os dias de
glória e suas benesses para si.
Ouvem-se inverdades, correntes de incertezas, impulsos corruptíveis e
crises de consciência. Sim! Porque ainda existem consciências por trás desta
cortina de fumaça humana, quando poucos foram os que conseguiram escapar, como
os cita Oscar Wilde em sua lista preciosa de gênios quando escreveu A Alma do
Homem sob o Socialismo: Darwin, Keats, M. Renan, Flaubert.
As consequências implacáveis que assolam a vida dos indivíduos nesses
dias contemporâneos geram uma cadeia de interdependência forjada no egoísmo
supremo, advindo da insatisfação e do vazio que permeiam tais exigências - tão
passageiros quanto a cólera dos que não se sobressaem na ala das luzes da
sociedade.
Percebe-se que o olho no olho já não fala as mesmas palavras de
outrora, pelo contrário, revela-se ai a face temível e o ruído de palavras
não-ditas, desprovidas de humanidade. A exemplo, podemos tomar as levas de
crianças abandonadas e famintas nas ruas, que acordam já com a dor em seus
estômagos vazios, carentes de água, comida e esperanças de felicidade, a que
parece tê-las abandonado ainda no útero de suas mães.
Quando Oscar Wilde alude ao individualismo do ser, ele quer dizer que
as necessidades do homem necessitam do suprimento diário, para que possa viver
de forma digna e sublime, complementando as sutilezas de seu instinto puramente
espiritual e humano.
A busca pela felicidade é real e vista todos os dias estampada na cara
das pessoas; muitas são as teorias e livros escritos, cruéis receitas infalíveis
e conselhos corriqueiros. O segredo se encontra na individualidade de cada um,
no autodesenvolvimento, na busca suprema personalidade e do eu que se submeterá
o indivíduo.
* * *
domingo, 11 de agosto de 2013
Sinais, cores e malabarismos da vida
Imagem:http://redeglobo.globo.com/talentos/gogoia/br-confidencial/platb/2013/03/12/atento-aos-sinais-de-ney-matogrosso/ |
Em sua turnê comemorativa
aos seus quarenta anos de carreira, o artista Ney Matogrosso retornou a Porto
Alegre, nos dias oito e nove deste mês de Agosto, para apresentar o show “Atento aos
sinais”. Não fui assistir ao espetáculo do Ney, mas parecia mera coincidência quando
li nos noticiários da TV, nos jornais, nas revistas e em muitos outdoors
espalhados pela cidade que o artista estava hospedado num dos hotéis mais tradicionais,
renomados e contemporâneos da cidade, localizado no Centro Histórico.
Penso sempre no estilo
carregado de mensagens, cores e malabarismos do Ney Matogrosso e seus
personagens interiores. É faustoso e incrível de ver sua corte e sua produção
colossal que fazem as almas flutuarem no ambiente.
O que inspirou o título
de sua turnê foi “Oração”, do compositor Dani Black. Confesso que ainda não conhecia
a música, mas quando ouvi senti algo mais inspirador ainda, pois em mim
explodia a oração que pedia o fim do vazio dos dias iguais, e que eu também não
iria ceder às provocações nem às tempestades do mundo. O amor era o que eu
pedia e o que Ney trouxera para o povo. Entrei no diálogo, na música, na oração
e me recriei.
Estou atenta aos sinais
do mês de Agosto. Nestes dias oito e nove, soube que Ney foi encantador com os
colaboradores do hotel e seus fãs que pediam autógrafos e estavam loucos de
curiosidade sobre a vida dele. Queriam ver o personagem mais de perto, com
perfeições e imperfeições, como humano, gente que vive no mundo real e podia
deixar uma mensagem de um artista que sabe viver e cantar a vida.
Eu acompanhara tudo de
perto, nesses dois dias, próxima aos atos e comentários, com minha discrição,
moderação e uma vontade louca de pisar logo aquele chão tão íntimo e ao mesmo
tempo desconhecido - que seria em breve meu novo local de trabalho -, o mesmo
que o Ney Matogrosso se hospedara e desfilava simpatia e humanidade para os que
o esperavam na porta do hotel, com câmeras, canetas e papeis na mão. Um
registro, apenas, e não se fala mais nisso!
Naqueles dias também eu
fui entrevistada, muitos olhares miravam em minha direção, assinei muitas
folhas – para mim era algo como um autógrafo, pois estava no palco da minha
profissão, me apresentando, crescendo, evoluindo com as oportunidades. Eu
estava em outro hall, oposto, mas sabia que dividia o mesmo espaço com o Ney. Todos
que estavam ali pareciam alinhados no mesmo ritmo da hospitalidade e do bem
receber.
Se
fosse somente sobreviver, não haveria motivos para continuar. Há algo maior: a
vida que se abre nas mãos, com novos personagens e pessoas reais que dão o tom,
a vibração e o sentido necessário - isto basta.
***
domingo, 4 de agosto de 2013
Espetáculo do olhar
Decidimos partir à tarde,
não muito cedo, nem próximo ao crepúsculo, pois ainda tínhamos mais planos para
o fim do dia.
Não pude me conter ao
pensar que nosso destino era a colônia das múltiplas linguagens que teríamos
que usar para transpassar os limites do olhar – íamos para o zoológico! Quis
ver o passeio – ou aventura – pelo meu reino fantástico da psicologia
espiritual, que tenho tentado me aperfeiçoar a cada dia, como a experiência do
contato – essa incrível capacidade que faz os mais sensíveis e impressionáveis
seres pagarem um preço elevado pelo que acreditam no ambiente do espetáculo.
Sempre soube que no
zoológico ficam expostos para visitação – como nas vitrines de lojas, desde as
mais modestas até as de grifes luxuosas, animais de espécies, gêneros, famílias
e todas as nomenclaturas científicas que os organizam numa classificação
harmônica que define o reino ao qual pertencem.
A enigmática diferença de
tudo para mim está no ato de ver, se toco o ser ou o que está impregnado dele,
já faço parte do que sinto, mesmo que de espectadora da sua continuidade ainda
não revelada – é que não se pode saber do próximo passo, qual o sentido de rumo
que ele tomará, nem nas próximas horas.
Fui tomada, à entrada, em
que se estendia um grande e explicativo mapa-roteiro para encontrar os grupos
de animais que podiam despertar o interesse do visitante – naquele momento, o
nosso – então já digo que me senti instigada por todos, pois imaginar formas de
vida e comunicação é o que me tem feito escrever ou pensar como se escreveria
isto ou aquilo.
Na primeira rota que
escolhemos, para ver os animais de grande porte, ainda não sabia o que sentir –
não era apenas curiosidade, era quase o medo de sair sufocada por uma falta de
liberdade. Os animais estavam presos, exibidos, expostos a qualquer olhar que
não se pode mensurar o nível de bondade ou crueza – estavam longe do seu
habitat natural, presos em jaulas, inescapáveis.
O espetáculo é o que
atrai, o diferente mobiliza e até bestializa o ser humano – vi muitas pessoas
tentando imitar caras, bocas e até uivos que pudessem chamar a atenção dos
animais, que pareciam estar numa crise de mau humor.
Andamos bastante, de
grupo em grupo, vez por outra uma olhada no trajeto – primeiro aqui, depois o
outro -, e assim passamos a maior parte da tarde. Nada parecia mais novidade –
a graça havia no charme sem pretensão dos animais -, era tudo quase como um
grande circo que tinha seus números em horário marcado para apresentação – acho
que fiquei farta de ver belezas na sociedade do espetáculo para satisfazerem os
olhares que pagavam caro por algumas horas de atrações.
Desejaria mesmo saber que
todos aqueles animais estariam logo em seus espaços e linguagens originais,
pois eles vinham de várias partes dos continentes e parecia que ali, estavam
somente à espera da liberdade – queriam saber que eram livres em suas
naturezas.
Foi o que pude sentir,
sem toques, apenas com o olhar que me fazia entender o universo incomprimível
do outro, pois a grandeza se mostra mais no que não está aparente, mas no que
se oculta na carne. Não sabia se sofria, se olhava com
a alma embotada e sufocada, ou se o que via era um misto de redenção e do que
sempre desejei sentir diante do traço disforme que passa por mim, separado
apenas pelo meio-fio, que parece falar o que eu não gostaria de escutar. Mas já
se falou, sentiu, e não se pode voltar atrás.
***
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