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Quando ela disse a si que parou sua vida, parecia que estava preparando
uma bebida com várias combinações de frutas cítricas e fórmulas picantes
indicadas pelo melhor barman da cidade – pensava, inquieta, que o pouco que conhecia
de bebidas, coquetéis e drinks não a levaria a uma sequência de degustações,
pois ela adoraria ser uma conhecedora das incontáveis metáforas que passeiam
pelos sentidos inebriados.
Nos circuitos brilhantes que vinham perfurando meus olhos com um prazer
indescritível, eu me via com uma taça esplêndida dando formas aos meus dedos macios,
ao se enrodilhar ofegante pela haste longa enquanto inventava e criava algumas
cenas numa casa noturna. Estava tudo, de repente, tão intenso como as
esculturas pensativas e enervadas de A. Rodin. O mundo da menina que pensava
ter sido parecia entendido naquele momento, os atos estendidos pelo chão, em câmera
lenta, apropriando-se de tudo o que imaginei que existia em mim, na verdade,
foi a profundeza da minha angústia - ela tomava rumos inesperados, até que
chegasse outra agudeza sublime que me transportasse para a rota de calor dos
trópicos, como dizem os apaixonados pelo mormaço e perfume que o mar resvala em
nossa pele em dias intensos de verão.
As bolhas espumantes eram infinitas, pois a bebida caminhava devoradora
pelo pulsante céu da boca, entrava escorregadia, procurando a passagem para o
submundo interno da gente – aquele caminho que conhecemos de cor nas grandes
ocasiões em que se é possível passar pelas aparências das coisas e depois se
esconder por entre as pernas cambaleantes, cheias de espectadores, aplausos e
merecimentos baratos. A felicidade inesperada causa certo desconforto na
composição física do indivíduo, mas, às vezes leva a uma dimensão sem
resquícios de controle para a exposição de sentimentos e gargalhadas por
motivos aparentemente sem graça – digo isso para os que se chocam por pequenas
banalidades necessárias.
O que realmente podia ver, tomando o aspecto pálido e sombrio à minha
frente era um rosto que dizia muito de si, não titubeava um instante, pois era
forte, mesmo com a descoloração momentânea que se esvaia naquela poltrona que
sabia mais sobre seus infortúnios que ela.
***
Maravilhosa crônica Patrícia, adorei!!!
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