Quando nos é dada a oportunidade de voar e sair em direção a nossos
mundos interiores, silenciosos e gritantes nesse intrépido invólucro, feitos de
argamassa e pudor humano, demora-se um pouco a escapar. Esse é o peso da divina
comédia humana: Escapar!
O mundo que me perdoe, mas o que se passa agora na cabeça dos que estão
famintos, descalços, nus, disformes - o que se passa, meu Deus?! Creio que
somente algumas vontades elementares de sustentarem seus corpos, que mal pairam
no ar. Não só destes desgrenhados materiais e humanos, mas o peso dessa anomalia
chamada fome – e existem infindáveis tipos-, há de um dia desaparecer diante da
infinita estupidez humana.
É ai é que entra o promíscuo mundo obscuro do homem. Não é só a fome, o
frio, o calor e outras sensações físicas que matam levas de indivíduos a cada
dia, mas a perda de suas personalidades a cada momento: o perder-se, o
não-encontro, o não-saber, o não-viver.
Existem valores para o homem que são a edificação mais sólida criada em
toda a humanidade, e eles - as virtudes, os atos, a benevolência -, não se
manifestam antes da passagem por esse subterfúgio chamado planeta terra. Ao
tatearmos uma superfície tão escorregadia sentimos o terrível medo de nos
afogarmos.
Seguimos um ritmo, dançamos no descompasso da vida e das coisas que se
mostram para nós com suas faces inventadas, e vemos que somos impulsionados a
encontrar mundos e pessoas escondidas na poeira do tempo. Toda essa música sem
graça e sua triste composição sádica nos levam pelas reentrâncias deste mundo
sem leis, cores, códigos, moradia, normas, comidas, vestimentas, poesia e boa
música. Vamos à busca das novas composições e arranjos que virão de uma viagem
muito longa, delineando os extremos do universo.
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