Imagem: http://www.greekmyths-greekmythology.com/morpheus-the-god-of-dreams/ |
Outra porta escancarada. Confesso que não
tenho medo de assombrações humanas, embora o mundo dos sonhos me traga as
histórias mais bizarras - que nem ouso imaginar, quando sou livre, para a
construção das minhas torres interiores.
- O que é isso, deus dos meus dias? O que
são estes sonhos que se confundem com a vida que acredito e tenho por real,
como a parte verossímil de mim; o lugar que se ergue em fantasias, e traz algo
inteligível para que meus passos não se confundam no lapso de minhas confusões.
Ando por uma espaçosa casa, de vãos claros
e vasta mobília, de sótão e porão, de varandas que dá para um bosque - sua
imensidão causa medo -, medo de quê? Ainda não sei. Se é real, parte como algo
inexplorado dentro de mim, talvez seja essa a razão psicológica ou minha
autoexplicação da ficção que os sonhos arquitetam. - E quando a mobília, a casa, o dia de chuva
e os raios de sol não são reais? Terei de saber da suprema realidade das
coisas?
Vi um dia desses um escritor que perambulava
pela rua vendendo sua obra, não parecia muito feliz, mas trazia um agradável
semblante, de quem escreveu a história dos outros e disse tudo a respeito da
condição humana. - Pensei: eis o poeta
de alma nua. Também não ouso dizer que essa imagem delineada da pobre criatura
seja real. Há mundos imersos dentro de mim, que saem, vagabundeiam, voam pelos
espaços ermos, e não são reais como desejaria que fossem.
Povoados são meus universos paralelos, que
atuam e fazem do real o eco experimentado pela sensibilidade caótica que alguns
personagens mais aguçados trazem dentro de si, e se salvam em suas próprias
armadilhas, para espantar o caos que sobrevive inalterado no enredo das horas.
De onde vêm os sonhos e as cores
encantadoras e cruéis que montam e juntam seus palcos opostos? - Sei que os meus
brotam de dentro de mim, sem medidas, espaçosos, permissivos, que não bastam em
seus devaneios. Sinto que são únicos e suspensos por uma ponte que liga minha
realidade ao infinito inconfessável que temo revelar. Eles vêm à noite ou a
qualquer momento que encontram seus portais abertos; ficam à espreita e se
portam como nuvens carregadas em suas tonalidades escuras, borradas com pincéis
surrados pela exatidão dos traços, como a vida que carrega suas histórias - sem
cortes.
***
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