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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Quando vêm os sonhos

Imagem: http://www.greekmyths-greekmythology.com/morpheus-the-god-of-dreams/
  


Outra porta escancarada. Confesso que não tenho medo de assombrações humanas, embora o mundo dos sonhos me traga as histórias mais bizarras - que nem ouso imaginar, quando sou livre, para a construção das minhas torres interiores.

- O que é isso, deus dos meus dias? O que são estes sonhos que se confundem com a vida que acredito e tenho por real, como a parte verossímil de mim; o lugar que se ergue em fantasias, e traz algo inteligível para que meus passos não se confundam no lapso de minhas confusões. 

Ando por uma espaçosa casa, de vãos claros e vasta mobília, de sótão e porão, de varandas que dá para um bosque - sua imensidão causa medo -, medo de quê? Ainda não sei. Se é real, parte como algo inexplorado dentro de mim, talvez seja essa a razão psicológica ou minha autoexplicação da ficção que os sonhos arquitetam.   - E quando a mobília, a casa, o dia de chuva e os raios de sol não são reais? Terei de saber da suprema realidade das coisas?

Vi um dia desses um escritor que perambulava pela rua vendendo sua obra, não parecia muito feliz, mas trazia um agradável semblante, de quem escreveu a história dos outros e disse tudo a respeito da condição humana.  - Pensei: eis o poeta de alma nua. Também não ouso dizer que essa imagem delineada da pobre criatura seja real. Há mundos imersos dentro de mim, que saem, vagabundeiam, voam pelos espaços ermos, e não são reais como desejaria que fossem.

Povoados são meus universos paralelos, que atuam e fazem do real o eco experimentado pela sensibilidade caótica que alguns personagens mais aguçados trazem dentro de si, e se salvam em suas próprias armadilhas, para espantar o caos que sobrevive inalterado no enredo das horas. 

De onde vêm os sonhos e as cores encantadoras e cruéis que montam e juntam seus palcos opostos? - Sei que os meus brotam de dentro de mim, sem medidas, espaçosos, permissivos, que não bastam em seus devaneios. Sinto que são únicos e suspensos por uma ponte que liga minha realidade ao infinito inconfessável que temo revelar. Eles vêm à noite ou a qualquer momento que encontram seus portais abertos; ficam à espreita e se portam como nuvens carregadas em suas tonalidades escuras, borradas com pincéis surrados pela exatidão dos traços, como a vida que carrega suas histórias - sem cortes.

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