Sempre que passo
em frente de alguma igreja, vasculho com o olhar o que tem lá dentro, como tudo
está organizado e me vem uma sensação mística quase incontrolável, o desejo da
redenção, seja pelo que for, o mínimo pecado imaginado pela gente, mas que está
lá, acompanhando a vontade como um monstro irreconhecível, em destroços.
Tenho minhas
crenças, meus dias em que acredito, e, outros, que nem sei como existir – às
vezes mergulho em fantasias que crio, em devaneios poéticos, escrevo textos que
alguém se identifica, ou não se dá por total satisfação; isto cada vez mais me
dá um impulso para revolucionar algo dentro de mim; é uma espécie de vício
olhar, perscrutar, observar ao longe, tentar sentir o que está exposto, até
mesmo a pele encharcada do homem que pulsa junto ao coração.
Numa das minhas incursões
pelas ruas de Porto Alegre, vi um homem chorando, conversando consigo dentro de
uma igreja, a do Divino Espírito Santo, no bairro Bom Fim. Para muitos que
olhasse para ele veria uma pessoa invadida pela loucura, veria seu momento mais
fraco; ele perambulava dentro de si e não tinha explicação, buscava um
encontro, acho que nem sabia com quem, talvez tivesse perdido algo, ou talvez
até aquele momento nunca encontrou nada à sua altura. Ele estava sentado num
banco lateral, e, acima da sua cabeça, estava narrada em detalhes minúsculos a
Via Sacra de Cristo; era seu caminho entrecortado de pessoas que acreditaram e
das que subjugaram sua força, como se ali dentro não existisse algum resquício
de humano.
Em outras
ocasiões vi pessoas em estados quase esquizofrênicos, como fala a literatura
científica. Logo sinto um nó na garganta enlaçando a alma que trago – é que
minha alma é mutável, dependendo da situação, ela se alastra pelo chão até
encontrar seu outro pedaço. Tenho um recanto espiritual que não necessita de
explicações nestes momentos, ele se encontra no lugar ideal, na hora certa, no
ritmo perfeito. Sabe tirar de mim, com toda força, a essência da ação e o
submundo da reação, independente das minhas escolhas religiosas, que não as
tenho, não sigo religiões, mas me interesso pela simbologia, as histórias, o
substrato, o Deus contido em todas elas, que se divide, abstrai, mas está, um
só, no imaterial e material de todos os homens.
Na Catedral de Notre-Dame de Paris vi uma mulher
desesperada em frente à imagem de Maria, ela se parecia com as imagens góticas,
vestida do maior sofrimento. Ela chorava, soluçava, se retorcia. Pude sentir o
que havia nela, eram tantas sensações ali, que pude sofrer junto. Talvez eu tenha
escrito algo e se perdeu com meu esquecimento, pois viver tudo aquilo era muito
maior. Talvez ela chorasse pelo amor, pelos filhos, pelo abandono, pela vida
que não viera e não pudera alcançar quando estava por perto. Ela estava tão
dispersa que quase alcançava os pés com a cabeça em seus movimentos bruscos,
elevava as mãos para o teto colorido por mãos seculares a espiá-la. Eram tantos
encantos, tantas luzes esfumaçadas, que atingiam qualquer estado de palavras,
era como um julgamento: de réus e de gárgulas.
Passei por muitas
igrejas, em vários lugares, com a câmera fotográfica posando nas mãos,
apontando para o momento certo que chamaria a atenção do meu olhar. Em Roma, visitei
a Basílica di San Pietro e me
extasiei com a Pietà, de Michelangelo;
a Basílica di
Santa Maria Maggiore, que está a mãe de Jesus com toda a sua pompa
sagrada; A Igreja de San Pietro in Vincoli,
dedicada a São Pedro e a São Paulo, onde o Moisés de Michelangelo enormemente brilha
no mármore polido; na Igreja Santa Maria
Del Popolo, existe uma inscrição no solo que diz Mors ad coelos ( a morte é o caminho para o céu), pensei
realmente sobre isto. Consegui enxergar nessas igrejas muitas cenas
humanas, sagradas, ainda vivas.
Mas para escrever
sobre homens, mulheres e suas vidas fatigadas preciso entrar em sintonia - com
a pessoa, o ambiente; preciso cruzar minha história, atiçar minha liberdade
para invadir espaços lacrados dentro das pessoas; umas são quase
imperceptíveis; outras se mostram, revelam o dia mais obscuro que procuro. Sei
que muitas delas se veem como restos que entraram em decomposição e deixaram
suas formas nuas, brancas, quase esculpidas no mesmo mármore do Michelangelo. Eu
as vejo como almas lapidadas pela vida.
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Olá bom sábado pra vc!!!
ResponderExcluirpasseando pelos Blogs vi o seu e vim
conhecer, gostei de tudo que vi por aqui, parabéns pelo belo post, e tomar um cafezinho com novos amigos e tudo de bom, se puder me visite e fique como eu
Deixo um abraço com carinho
Bjusssss
____________Rita!!
http://cantinhovirtualdarita.blogspot.com.br/