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sábado, 9 de novembro de 2013

Uma cidade repensada

Imagem: Arquivo da cidade São Mamede



"Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar." – Zygmunt Bauman

Um povo, um lugar, uma cultura. Imaginar uma cidade é como traçar o próprio destino e levantar voo para a vida, em busca do prazer que ela pode oferecer aos seus moradores, visitantes ou turistas ávidos por novos ares e clicks inusitados. É sobretudo revisitar os acontecimentos e perceber as transformações ao longo do tempo: das paisagens emergentes às novas gerações com modernos hábitos e mudanças de comportamento.

A história nos dá esse prazer de viajar e poder contar, ou melhor, narrar com nossa própria linguagem acerca dos mundos construídos e modificados pelo homem ou pela mãe natureza em qualquer lugar do planeta. Por isso, penso que o ser humano, antes de um ser local, fincado na terra, ele é universal, pois viver já é o suficiente para mostrar que estamos num mesmo barco, navegando para novos descobrimentos.

São Mamede é assim: uma mostra real de caminhos, possibilidades, gente ousada e esperançosa, que se destaca e não tem medo de trabalhar em prol da valorização da memória dos seus familiares, amigos, da sua história e da sua cidade. Claro que não desejo traçar aqui metas e planejamentos para o desenvolvimento da cidade – pois já há quem trabalhe para isso -, o que me deixa ainda mais esperançosa de que um dia ela possa servir de exemplo para outros municípios – uma cidade-modelo. Tudo é possível, desde que haja seres humanos empenhados e que lutem por uma causa.

Lya Luft, com sua carga pesada de lucidez perante as palavras, fala de algo interessante e que nos faz repensar nosso lugar no mundo, nem que seja por poucos minutos, mas é algo que martela em nosso íntimo, talvez por falta de atitude diante das situações cotidianas que nos tiram o chão. Assim ela se questiona e nos direciona em A riqueza do mundo: Deve ser o nosso jeito de sobreviver, não comendo lixo concreto, mas ruminando lixo moral e fingindo que está tudo bem. Pois se nos sentimos de verdade parte disso, responsáveis por isso, como continuar uma vida cotidiana e banal? O que fazer, como mudar? Talvez empregando diferentemente a riqueza do mundo. Entendo que, quando ela fala do lixo concreto e moral, há um fundamento maior e um chamado desesperador para ocuparmos de forma responsável nosso espaço e tempo, para darmos conta do que está em nossas mãos, e não nos deixarmos levar pelo que a vida oferece de melhor ou situações não tão agradáveis. É assumir nossa postura guerreira pelas causas que gritam por visibilidade - aqui, é do lugar que existe.

São Mamede possui tradição em festas como a celebração de São Sebastião, a encenação da Paixão de Cristo por seus moradores, o São Pedro, a Festa Universitária e o encontro dos amigos, o Sete de Setembro, a celebração da Padroeira da cidade Nossa Senhora da Conceição, a Festa do Reencontro dos ausentes Saomamedenses. São festas que nos enchem de saudosismo, unem o sagrado e o profano, retornam com memórias cada vez mais vivas.

É bom lembrar também dos sítios arqueológicos e pinturas rupestres, da extinta COCEPA (cooperativa de algodão), das antigas fazendas, suas famílias e seus moradores, das praças, do mercado, dos grupos escolares, da Igreja Matriz e seu entorno, das primeiras ruas, das vaquejadas, do artesanato, dos artistas, do povo, enfim, dos aspectos imensuráveis que construíram a história de São Mamede, desde a primeira ocupação até os dias contemporâneos, e permanecem erguendo um memorial que convida novos olhares exploradores.

São os incontáveis aspectos do lugar, a criatividade de seus habitantes, o aparato simbólico cultural, a economia, a política, a religião, as artes e o poder das ações incutidas de vivências e experiências particulares que nos propõem atitudes ousadas e possíveis. É mais que um retrato histórico e social da cidade - é a memória que deve ser preservada.
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Texto para a coluna Palavras e Atitudes, no Portal São Mamede: http://www.portalsaomamede.com/2013/10/uma-cidade-repensada.html

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