Imagem: Arquivo da cidade São Mamede |
"Vivemos
tempos líquidos. Nada é para durar." – Zygmunt Bauman
Um povo, um lugar, uma cultura. Imaginar
uma cidade é como traçar o próprio destino e levantar voo para a vida, em busca
do prazer que ela pode oferecer aos seus moradores, visitantes ou turistas
ávidos por novos ares e clicks
inusitados. É sobretudo revisitar os acontecimentos e perceber as
transformações ao longo do tempo: das paisagens emergentes às novas gerações
com modernos hábitos e mudanças de comportamento.
A história nos dá esse prazer de
viajar e poder contar, ou melhor, narrar com nossa própria linguagem acerca dos
mundos construídos e modificados pelo homem ou pela mãe natureza em qualquer
lugar do planeta. Por isso, penso que o ser humano, antes de um ser local,
fincado na terra, ele é universal, pois viver já é o suficiente para mostrar
que estamos num mesmo barco, navegando para novos descobrimentos.
São Mamede é assim: uma mostra real
de caminhos, possibilidades, gente ousada e esperançosa, que se destaca e não
tem medo de trabalhar em prol da valorização da memória dos seus familiares, amigos,
da sua história e da sua cidade. Claro que não desejo traçar aqui metas e
planejamentos para o desenvolvimento da cidade – pois já há quem trabalhe para
isso -, o que me deixa ainda mais esperançosa de que um dia ela possa servir de
exemplo para outros municípios – uma cidade-modelo. Tudo é possível, desde que
haja seres humanos empenhados e que lutem por uma causa.
Lya Luft, com sua carga pesada de
lucidez perante as palavras, fala de algo interessante e que nos faz repensar
nosso lugar no mundo, nem que seja por poucos minutos, mas é algo que martela
em nosso íntimo, talvez por falta de atitude diante das situações cotidianas
que nos tiram o chão. Assim ela se questiona e nos direciona em A riqueza do mundo: Deve ser o nosso jeito
de sobreviver, não comendo lixo concreto, mas ruminando lixo moral e fingindo
que está tudo bem. Pois se nos sentimos de verdade parte disso, responsáveis
por isso, como continuar uma vida cotidiana e banal? O que fazer, como mudar?
Talvez empregando diferentemente a riqueza do mundo. Entendo que, quando
ela fala do lixo concreto e moral, há um fundamento maior e um chamado
desesperador para ocuparmos de forma responsável nosso espaço e tempo, para
darmos conta do que está em nossas mãos, e não nos deixarmos levar pelo que a
vida oferece de melhor ou situações não tão agradáveis. É assumir nossa postura
guerreira pelas causas que gritam por visibilidade - aqui, é do lugar que
existe.
São
Mamede possui tradição em festas como a celebração de São Sebastião, a
encenação da Paixão de Cristo por seus moradores, o São Pedro, a Festa Universitária
e o encontro dos amigos, o Sete de Setembro, a celebração da Padroeira da
cidade Nossa Senhora da Conceição, a Festa do Reencontro dos ausentes Saomamedenses.
São festas que nos enchem de saudosismo, unem o sagrado e o profano, retornam com
memórias cada vez mais vivas.
É
bom lembrar também dos sítios arqueológicos e pinturas rupestres, da extinta
COCEPA (cooperativa de algodão), das antigas fazendas, suas famílias e seus
moradores, das praças, do mercado, dos grupos escolares, da Igreja Matriz e seu
entorno, das primeiras ruas, das vaquejadas, do artesanato, dos artistas, do
povo, enfim, dos aspectos imensuráveis que construíram a história de São Mamede,
desde a primeira ocupação até os dias contemporâneos, e permanecem erguendo um
memorial que convida novos olhares exploradores.
São os incontáveis aspectos do
lugar, a criatividade de seus habitantes, o aparato simbólico cultural, a
economia, a política, a religião, as artes e o poder das ações incutidas de
vivências e experiências particulares que nos propõem atitudes ousadas e
possíveis. É mais que um retrato histórico e social da
cidade - é a memória que deve ser preservada.
***
Texto para a coluna Palavras e Atitudes, no Portal São Mamede: http://www.portalsaomamede.com/2013/10/uma-cidade-repensada.html
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