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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Um não-lugar impecável



Imagem: Henri de Toulouse-Lautrec

Sou uma outra pessoa. A que com a face se entrega; a que se apavora com a situação presente. Penso que me dou melhor com a pessoa-sensação que foge para um lugar inventado de paisagens planas e coloridas, leves e musicais. Quando me sinto sufocada, perco o chão, como se fosse transportada para qualquer espaço ermo, sem cores ou sons que acalentam minhas dores e inseguranças.



            Morro pela falta de liberdade! É um mundo que irrompe todos os dias, vestido de forma impecável, frio, galanteador, aparentemente racional, com minha vida no palco, cantarolando quimeras desconhecidas que vivem da suprema inventividade e do gosto de existir. Ainda saio como num passeio qualquer, vou atrás do que há de moderno, como se costuma dizer. Mas qual a graça disso tudo? Preciso transpor meus limites torpes que agonizam como felinos atingidos por algum predador.



            Quero a vida em minhas mãos, ser carregada como o vento que sopra as folhas secas; quero a inconstância, o não-lugar, a ansiedade que prepara o corpo para algum desfecho. Não gosto da estabilidade das coisas, elas tem um quê de finitude, de prontidão diante da gente, é como se não houvesse espaço para corromper o que está perfeito, e perfeição é algo que aglutina início, meio e fim. É bom para apreciar e se imaginar perfeito, mas nem temos caminho para isso nesse mundo em ebulição, que combina bem com o slogan “tudo junto e misturado”.



            Senti a necessidade de alguém para caminhar junto, e para isto já o tenho, ainda que eu não me revele por completo – é que não daria o charme, o mistério do próximo passo, da viagem que sempre está por vir.



Dá-me, por fim, tuas mãos poderosas, que possam afagar meu rosto suado de tanto acreditar. Dizem que o céu pode se abrir, lembro de ter visto este diálogo num filme que assisti há algum tempo, e marcou pela forma com que foi falado, pois eram almas singulares que viviam de um  momento único, que passava sem tréguas.



Incompleta e complexa. De que me serviria o contrário? Seria não-ser! Como saberia ousar e provar das representações que eclodem em mim como artistas em êxtase? Nem sei explicar, mas seria uma falta de tudo, um mormaço sem chamas. 

                                     ***

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