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domingo, 8 de dezembro de 2013

Inesperado viajante



Imagem: disponível em Hanna Brescia in Pictures

Ele me observava do alto de uma rua. Tinha cabelo desgrenhado e um cheiro forte de suor, como quem viera a pé de uma viagem muito longa. Continuava a me observar com vislumbre ou algo mais terrível no olhar. “Quisera me levar para o lugar de onde viera?” Tive essa impressão ao olhar sua posição estática povoando a rua que conhecíamos desde a infância. Descíamos o meio-fio, muitas vezes abraçados como velhos amigos, e fazíamos planos .

Sim, era ele! Mais uma vez entrara no meu sonho como uma viajante, talvez quisesse me falar algo, mas não se permitiu. Ou será que fui eu que interrompi mais uma vez o motivo dele me falar? Ele tinha caminhado bastante, parecia exausto. Não tenho medo do que vejo ou do que poderia acontecer de uma visita tão inesperada, se é que tenho consciência do que realmente acontece.

Não pensei em montar um cenário mais agradável, já que eu tinha total domínio e liberdade para espalhar minha criação, como o processo artístico que se expande em nossas mãos e toma forma minuciosa em qualquer parte que anunciamos. Não tive tempo, fiquei tomada em demasia, como um corpo estranho que nunca se tomou pela coisa humana, como se jamais tivesse existido; como um tormento sem nome e que se vai quando deseja, pois não obedecia a qualquer vontade, nada lhe era superior, a não ser seu ego volátil e sua necessidade de estar ali.

A ideia era mais tátil, como se na verdade pudesse pegar e sentir, mas era só um risco estranho no ar, como se parasse à sua maneira, não devorado pelo medo como eu estava; ele vinha como se flutuasse no vento e em qualquer campo de concentração de fluidos, era surreal como aparecia, como desejava ser; ele desejava uma forma que não podia, não tinha consciência do que tinha se tornado, talvez nem pudesse se ver. Ainda tenho uma curiosidade estranha pelo seu universo paralelo, nem sei explicar como tudo acontece, mas sei transformar cada peça dentro de mim.

Imagino que ele viera mesmo me mostrar, orgulhoso, sua liberdade. Não entendo por que ele arma situações e me escolhe em momentos tão familiares, como se eu já tivesse vivido tudo aquilo, como uma repetição de atos para se chegar à perfeição. Não sei, penso que não devo saber; algum dia ele dirá.

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