Uma sobrevivente. Vejo as pessoas em busca de felicidade, a maldade nos
olhos, a fome que ataca todos os dias milhões de pessoas, as ninharias sem
valor que ganham poder em todos os cantos do mundo, o medo da morte, a busca de
respostas para tudo, as diferenças que dizem que uns são melhores do que
outros. E ainda existe explicação para tudo isso: religiosas, econômicas,
culturais, políticas, sociais, e tudo mais!
Até aí tudo bem! Buscamos um meio de agir, de onde estamos para o mundo,
falamos, debatemos, temos religião ou qualquer crença que nos faça melhor a
cada dia, agimos para que a vida não seja tão delinquente como um novato no
mundo do crime, sem medo do holocausto diário. E tudo continua nos afetando do
mesmo jeito.
Não quero fechar os olhos achando que a humanidade pode ser feliz. Pelo
menos aqui, não! Então volto a me perguntar: "Existe felicidade?" e
algo grita dentro de mim: "Ela é individual e depende de cada um".
Então, fico remoendo que trazemos o bem e o mal dentro de nós, em proporções e
doses diferentes.
Logo, tudo se torna um monstro ambíguo e gigante que não me faz acreditar
na tão utópica felicidade porque olho muito para o ser humano, questiono, e não
encontro resposta alguma que me convença de que é possível ser feliz olhando
para o mundo que aí está há bilhões de anos: o mundo das diferenças, das
guerras, dos medos, da insatisfação, da solidão, da fome, o universo trágico
dos pobres. Preciso olhar para este mundo todos os dias para lembrar que sou
humana e que tenho necessidade de vida.
Ah, o mundo mesquinho dos holofotes, da glória e das aparências e da
ignorância fantasiada do pedantismo - ele também existe! Também olho para ele
todos os dias para me provar que, acima de tudo, somos humanos.
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