Em meio as tantas
inquietações que sacodem nosso corpo e tiram nossos pés do chão, tenho medo que
nada reste de interessante, porque, sinceramente, o que mais amo é escrever,
ler, ver filmes, mimar e estar com as pessoas que amo, conhecer suas
entrelinhas e tentar salvá-las, antes que seja tarde demais, e duvido que
muitas pessoas não gostem dessa combinação.
Dá medo parar, nem que
seja por um segundo para pensar, refletir, exorcizar nossa mesmice que achamos
que faz algum sentido – podem até ter seus momentos, e mais nada; tentar
provocar a si mesmo com algum sarcasmo não faz nada bem, nossa autocrítica é
cruel, e não costumamos nos perdoar. E os outros, o que falam de nós? melhor
deixar isso de lado - há tanto o que se viver!
E ainda vivo uma hora que
não se traduz, o que mais tenho a fazer? Rolar para os lados, olhar, mirar ao
longe dentro de mim, talvez descansar para o fim do dia; e meus pensamentos
pesam como canhões, têm uma força gigantesca dentro de mim, é um desejo, um
absurdo de interrogações que não deixam passar o minúsculo indivíduo que
percorre as ruas sem ser percebido por ninguém, ou, até eu enxergá-lo, com
minha precipitação de correr nas pistas densas e perigosas.
Não devo, não sei se
deveria acreditar tanto, ou desacreditar? O mundo cada dia parece mais um palco
montado para marionetes alvoroçadas, com medo de perder ou não dar tempo de
ganhar mais um movimento; é cruel, excitante, profundamente doloroso esperar o último
momento, sem pelo menos ter uma pequena certeza ou uma anunciação de que algo
vem vindo, ainda que seja devagar, brincando na sombra e tomando a brisa suave do
íntimo desconhecido. Não acho que a pessoa de deixa conhecer completamente, a
ponto de se saber quem se é.
Por tudo o que tiro
fielmente de dentro de mim, pelas sensações que me cercam, os ruídos que
desconheço, as ruas alagadas que deixam meus passos em falso, não rogo que eu
me conheça, mas que sobretudo eu saiba existir e fazer alguma coisa com o que se
revela em cada instante. É o necessário e o que preciso.
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