Quantos
palhaços existem em nossa sociedade! Uns portam máscaras diárias; outros, já
acostumaram com as rugas da testa, a pintura desleixada e os dentes encardidos
pela falta de tempo e dinheiro para escová-los.
Os
palhaços espalhados pelos sinais são tragicamente engraçados, pois eles, como
ninguém, sabem exprimir a banalidade da sociedade e mostrar que seu trabalho
não é meramente fazer rir, realizar piruetas, brincar com os tons e provocar as
notas musicais, mas também fazer sangrar, de forma tragicômica, os devaneios
irreais de uma sociedade alienada, que está mais para a teoria do consumo
"consumo, logo sou" que para o entendimento das problemáticas
políticas, sociais, econômicas, ecológicas e culturais que são pautas diárias
não só em âmbito nacional, mas mundial, e que se mostram um problema de todos
os indivíduos.
Mas,
como não se sentir importante e impotente ao mesmo tempo, diante da crítica
singela de um palhaço, que quando arregaça o sorriso sobram uns dentes
desmedidos dentro da boca, sem estética, que mostram apenas a condição
miserável de mais um ser humano que povoa o planeta terra?
Seus
braços malabarísticos desnudavam uma poesia inquieta, sem soluções para o
mundo, apenas cantando a triste condição humana de um palhaço, somente
entendido pela construção fatídica poética, que narra o ato e a posição das
coisas, não somente com a fala, mas com o próprio sangue dos personagens que
descobrem no perambular das suas noites a triste história dos seus dias reais.
Poesia é coisa séria
pois entre o sangrar, cantar e encantar
ela arrasta e desnuda
o coração e a alma
do palhaço solitário
engraçado e sorridente
da boca desenhada
quase sempre branco e vermelho
seria seu o sangue
ou a paz não encontrada
seria porventura palhaço
suas dores e redenção
embalar a pobreza
a dor o desassossego
a fome dos dias
a companhia incerta das ruas
contar sua história
e beber do seu vinho
puro sangue decantado
vermelho espesso
com humor
desalinho
tristeza no olhar
coisa que só
palhaço sabe fazer
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