Eis que já começa uma profunda alucinação. Já não é o sono que traga e
transforma os surtos dos dias iguais. Assim também aludo ao devaneio da obscura
imagem retraída do desejo, agora não mais com toda a calmaria e tranqüilidade
do absurdo, mas com um toque sutil e devorador das angústias dos dias em que me
vejo ausentada de mim mesma, tentando fugir para o teu sublime e doce lar.
Há muito que ouso depender do teu ser, como prefiro chamar de “a
exclusiva forma de inconsistência, do ocaso, do asco. ”É como perceber o volume
carnívoro do corpo entrar em surtos de contrastes, evaporando-se ao cair da
tarde, e, aos poucos voltar a se inebriar com as ilusões de um crepúsculo
dourado, em chamas.
Assim, atrevo-me a criar um espaço inabitável e clandestino, temeroso
ao mesmo tempo do sufocar inabalável das alucinações perdidas, sofridas no
tempo.
O embate, porém, é muito maior perante o encontro entre mim e o
resquício do eu passado por que estive tão absorta. Conjugo as sortes, e penso
que o suportar de uma vida está indistinta de um simples pulsar humano.
Não exporei o dia em que, por acaso relatamos mais uma vez nossas
histórias tantas vezes vindas em formas de pesadelo, ou lembranças de algo que
foi bom. Lembro como sucinta nitidez a forma dos detalhes com que ousava
invadir minha vida transviada e louca. Na realidade, pude ver minha
transformação, a qual temera tanto, por dias e pelos os próximos anos que
viriam. Mas não pude evitar tua presença aguda, cortante, indistintamente, vil.
Firme e inquebrantável! Quanto desejo de continuar como um ser
constante, não fosse essa minha desregrada sede do estranho, do irreconhecível.
Agora, não anseio mais voltar para algo que já não existe. Prefiro
asfixiar-me, condenar-me, enfim descer ao meu profundo inferno a ter que
novamente conhecer algo que já marcou minha pele e transgrediu minhas leis
insustentáveis.
Quero a manifestação desse poder, ao manipular minhas histórias, ao me
ver mudar a cada segundo e saber que ainda sou humana e posso construir meus
edifícios de mentiras, mas que de alguma forma, tem um sentido especial e um
pudor tão mutável quanto o meu estado de existir.
Ao falar tanto, a ponto de chegar ao pé de uma loucura comigo mesma,
recorro à fantasia, ao sonho, ao devaneio, a tudo o que é sórdido e medonho.
Estou só, e quero continuar em constante movimento, como se nada
pudesse desmoronar a qualquer momento.
São visões, tormentos, enfim, uma parte de mim em construção que se
desgarra e transparece aqui, em forma do que se poderia chamar “cartas a mim mesma”.
Os períodos são inconstantes, latentes, inequívocos.
* * *
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