Imagem:http://aventar.eu/2012/02/01/linda/olhos-tristes/ |
Eles
me olham na rua, apreensivos. Através das sombras das árvores podem descansar
um corpo que não sabe aonde ir. Andam sorrateiros pelas calçadas, encabulados,
constantemente com um olhar perdido no meio dos seus iguais, cheios de uma
liberdade tempestuosa ou desejada. Gosto de vê-los, de saber que sentem,
choram, transpiram, e sabem que são pessoas.
O
incrível é que sempre passam uma imagem ou portam uma impressão quase desatenta
quando olhamos seus atos, mas não o são, pelo menos acredito que a dissimulação
dá uma superficialidade aguda das coisas.
O
que mais sufoca é a estabilidade – eles estão sempre lá: nos mesmos lugares e
horários, vestindo farrapos de roupas, comendo restos, bebendo o que sobra de
alguém. São famintos e pedintes. Mas não posso dizer que seus rostos são sempre
tristes, porque vez por outra me deparo com faces que são como o arco-íris, com
suas cores reluzindo como num enorme cilindro, outras vezes, que não se
desnudam tanto.
Não
que eu queira viver de privações - acho-as dolorosas demais – porém, compartilho
por alguns momentos de suas experiências, pois consigo olhar no fundo dos seus
olhos e me imaginar em suas peles. Para eles, do abismo emerge algo supremo - sei
disso! Não tenho como explicar se é pelo excesso de liberdade ou a falta desmedida
das coisas que me faz imaginar o infernal limite de si mesmo.
O
que chamamos de novos começos também exige um mundo inteiramente novo - de
espaços, pessoas, concessões tão desconhecidas quanto a face vista pelo avesso
dentro do outro; é nossa clareza da alma transcrita num só texto, único, sem
amarras ou medo do desconhecido, porque o tudo e o universo das pessoas são os
fascinantes labirintos da existência.
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