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domingo, 1 de setembro de 2013

Labirintos das ruas




Imagem:http://aventar.eu/2012/02/01/linda/olhos-tristes/


 
Eles me olham na rua, apreensivos. Através das sombras das árvores podem descansar um corpo que não sabe aonde ir. Andam sorrateiros pelas calçadas, encabulados, constantemente com um olhar perdido no meio dos seus iguais, cheios de uma liberdade tempestuosa ou desejada. Gosto de vê-los, de saber que sentem, choram, transpiram, e sabem que são pessoas.

O incrível é que sempre passam uma imagem ou portam uma impressão quase desatenta quando olhamos seus atos, mas não o são, pelo menos acredito que a dissimulação dá uma superficialidade aguda das coisas.


O que mais sufoca é a estabilidade – eles estão sempre lá: nos mesmos lugares e horários, vestindo farrapos de roupas, comendo restos, bebendo o que sobra de alguém. São famintos e pedintes. Mas não posso dizer que seus rostos são sempre tristes, porque vez por outra me deparo com faces que são como o arco-íris, com suas cores reluzindo como num enorme cilindro, outras vezes, que não se desnudam tanto.


Não que eu queira viver de privações - acho-as dolorosas demais – porém, compartilho por alguns momentos de suas experiências, pois consigo olhar no fundo dos seus olhos e me imaginar em suas peles. Para eles, do abismo emerge algo supremo - sei disso! Não tenho como explicar se é pelo excesso de liberdade ou a falta desmedida das coisas que me faz imaginar o infernal limite de si mesmo.


O que chamamos de novos começos também exige um mundo inteiramente novo - de espaços, pessoas, concessões tão desconhecidas quanto a face vista pelo avesso dentro do outro; é nossa clareza da alma transcrita num só texto, único, sem amarras ou medo do desconhecido, porque o tudo e o universo das pessoas são os fascinantes labirintos da existência.



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