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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Clímax



Quisera algumas vezes não sentir! O cheiro, os sabores, os sons que me confundem as horas - é dessa essência de mim que corro o risco de morrer todos os dias. Quanta confusão em torno de sensações tão simples que não necessitam de maiores explicações quando provadas. 


Mas, ao fim, o que resta é a sinopse da história que passou, como num filme triste que, ao final, os olhos são ligeiramente arrebatados por lágrimas incompreensíveis. 


Daqueles cheiros, sabores e sons tão marcantes, resta um clímax devorador e antagônico, que chega a beirar o absurdo. Sim, pois minha capacidade de auto-avaliação faz desse desfecho um covil fantasmagórico, tão familiar que costuma ser para minhas transformações como pessoa em busca das visões de tudo o que se apresenta em seus trejeitos.


Sonho-os. De formatos embaraçosos, esguios, magros, disformes! É a liquidez submersa pelos contrastes e significados múltiplos; sobe o cheiro embutido pela farsa dos poderes; o gosto oblíquo do desencanto áspero na língua; o som da música escorregadia vestida pelo erotismo da noite. Puro antagonismo de sentidos!


São mais que formatos criados pela consciência embalados sempre ao cair da noite, e é dos encantos de sua musa que o feitiço se faz presente - da dama enigmática que vem todas as noites perscrutar as inquietações dos amantes, fantasiada e maquiada, apenas deixa que toquemos fundo a luz de seus olhos ao fim do encontro inconfessável.


Para ela - sempre a fugir do sol a lhe queimar os cabelos-, há o fetiche do desencontro, pois ele poderia lhe queimar até a alma. 


Assim também é a angústia do não-encontro, essa confusão de sentidos e paradoxos: quando não corrompem, amortecem tanto que beira a loucura alheia.



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