Só encontrei em seus olhos uma súbita e extrema vontade, daquelas que
só sabemos quando estamos ao topo do êxtase de nossos sentidos. De tamanho tão
ínfimo, quase imperceptível aos olhos mais desatentos, correu ao meu encontro
como uma notícia inesperada, mas não passou de um esbanjamento do puro
sentimento que falta ao ser humano.
Poderia dizer que esse encontro instintivo é uma condição nata que
atormenta o homem desde tempos mais remotos, mas, diferentemente da corrida
ingênua do pequeno filhote, esse, costuma pensar seus rastros milimetricamente,
como mais uma viagem proposital e numericamente calculada ao longo de sua vida,
pois, o dia inóspito e misterioso está sempre por vir em sua consciência
nostálgica e repleta de covardia, acumulada dia após dia.
Este rastro sorrateiro que acompanha não só o homem, mas também a construção
do universo possui uma percepção temporal muito além do que imaginamos pois, se
uma vida parece, aos setenta anos, possuir o peso de um milênio, imaginemos o
que para o universo se constrói num raio de bilhões de anos?
O arrebatamento pelas pequenas coisas é o que faz a diferença, para que
não fiquemos atávicos diante da corrida destemida do tempo. O que significaria
aquela recepção desconhecida, cheia de segundas intenções e confiança no ser
humano? Para mim, foi a representação mais sólida e desmedida do amor
incondicional, sem interesses ou outras sensações humanas equivocadas; foi
puramente um gesto de acolhida, em sua linguagem tão incompreendida neste
espaço nobre que rotulamos de planeta terra. Sim, porque nós, humanos
terráqueos, não queremos senão ser notados todos os dias e ou nos aventurarmos
diante das situações cômicas que presenciamos, acompanhadas de risos
sarcásticos e doses de humor sem graça. Mas, frente à tamanha carência,
burlamos o mal que não vem de seres ocultos ou superiores, mas das masmorras
desconhecidas de nossas almas congeladas.
Ainda ouso imaginar o bem que se encontra fugidio dentro do coração dos
homens.
* * *
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