Amanhã tudo estará vestido de azul! Digo isto com o mesmo entusiasmo
quando vejo o céu pesado e cinzento, o que para mim é o despertar do choro e
das angústias celestes. Mas, não só! É a beleza escondida por trás do universo
revelando sua dança triste, o que para os poetas e apaixonados, não passa do
choro pesado do deus enigmático à espera de sua musa que ainda não voltara da
grande viagem - aquela em que os deuses desaparecem embriagados, tomando formas
mortais e provando das angústias humanas.
Bem sabemos que a dança representa não só o encontro de dois mundos,
mas a troca de experiências inacabadas, o toque entre corpos envolvidos pela
mágica da substância vívida e mortal.
As notas musicais soam como o sopro dos deuses, gelando a espinha e
corrompendo a alma, mas, que em sua essência é o rito, a composição, o arranjo
exato que dá o ritmo aos amantes embriagados pelo vinho cortesão. Belo
acompanhamento para falarmos de sensações da carne, e assim como o sangue, sua
leveza se faz cristalina, aguda e doce, outras vezes, parece que seu efeito
corta a alma, trazendo à tona um sabor amargo e uma cor turva que confunde a
composição das uvas.
Porém, fora a bebida predileta, servida nos banquetes e ofertada aos
deuses das antigas e poderosas civilizações. Da Grécia à Roma Antiga, onde
Dioniso e Baco se camuflavam em esperados dias e longas bebedeiras, realizando
as vontades do instinto humano, seja nas
festas dionisíacas ou nas bacanais, o que simbolizava dias de lazer, descanso e
luxo! Sim, porque satisfazer os desejos da carne, sem proibições ou leis, é um
luxo de valor inestimável. Além disso, existiam as deusas, musas, semideusas,
dentre tantas mulheres de beleza incontestável para enlouquecer e rodopiar em
arrebatadores suspiros as inspirações dos homens; aquelas, metade humana e a
outra, divina.
Foi assim que os homens começaram a beirar o precipício da loucura para
a realização de seus amores plurais, o que não quer dizer que tais desejos
surgiram a partir desse culto ao vinho e seus deuses, mas de inquietações
maiores, inescrupulosas e carentes de linguagens vulgares; estava lá apenas a
expressão purificada dos laços humanísticos que enganam e transformam o que
denominamos sanidade ou pudor da carne.
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