O acordar noturno é como se espalhar pela morte e conhecer as
alucinações horrorosas que roubam nossos sonhos durante o dia. Quantos, tenho
visto voando, rondando minha cabeça, exalando um cheiro quase mórbido, ofegante
– são eles, que desconheço em suas deformidades. O que procuro são suas pupilas
enclausuradas, vagando por entre os desertos dos crepúsculos, procurando campos
minados de outros vermes vivos, espalhados numa torrente inebriante de insetos
famintos de sangue humano: nosso sangue!
Algumas vezes, sigo meus passos e acompanho despudoradamente cada
entranha da terra que se arraiga, e vejo uma das coisas que mais temo: vermes
imundos que um dia sugarão meu sangue debaixo de uma terra úmida, calorosa, que
solta larvas gasosas, coalhando sangues que ofuscam vidas e andam por entre os
homens.
Abram os olhos! Alguns dizem-no. Homens de moralidade hipócrita,
acordem e corram atrás dos seus atos vergonhosos. Não chegam a perceber o
desencanto dos dias quentes. Esta é a apatia jogada em cima da vida, o que
torna a causa do desalento que não souberam esconder.
Vermes! Vermes! Vermes!
Tenho receio de como digerem a carne, tão rápidos. Se pudessem aspirar nossos
ossos... - assim também pensa o homem! Sua vontade de driblar as efervescências
humanas torna-o quase sempre um covarde primeiro em seu invólucro. Já os vermes,
levam suas vidas diferentes dos humanos, porém, suas morais assemelham-se. Digo
dos homens os quais a superficialidade do mundo sobe-lhes à cabeça; daqueles
que andam em círculo, perseguindo caminhos que desmantelam as vidas dos seus
semelhantes; dos que programam a mente, a fim de se esquivarem dos raios de
sol; e ainda daqueles que são tragados pela noite em seus lençóis solitários.
Homens-vermes! Homens-morcegos! Alimentam-se às escondidas, no momento
em que dorme a humanidade. Essa fome representa a gravação do medo intrínseco à
alma: a deterioração perpétua.
Como fantoches, seremos sombras de um mundo que será o que fomos;
partiremos com nossos aguilhões e, sorrateiramente, o abandonaremos ao acaso do
amanhecer; produziremos confusões de identidade. Os monstros surreais serão
homens, e os homens, gentilmente, alçarão vôos noturnos, alados em asas de
morcego entoadas por hinos de anjos malditos.
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