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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Entre a boemia e o regaço das ruas



Será que eles haveriam de ser tão sentimentais ou boêmios quanto pareciam? Talvez o fossem! Um, sentado à calçada de um dos mais renomados bancos da cidade, cabisbaixo, maltratado pelas manchas do tempo em sua pele. Já o outro, cantava uma música que mais parecia versos saídos de sua boca. Mera convenção natural e habitual da vida contemporânea. Esta, que de tão realista, rasga a pele, porém, não sentimos o sangue das feridas correr por sobre o peito, muito menos o cheiro morno rançoso do líquido vital.

Mas, pela primeira vez na vida, vi o antagonismo entre dois corpos que beiram este absurdo que é a vida. Sim, absurdo de fomes, mentiras, desencontros, fracassos. Essa foi a aparência real do que vi, talvez não fosse a hora, mas senti o calafrio da velha carne rançosa habitando em mim, pois saberia que haveria de ser escrita uma história da pele que anda nua. 

Como parte de um mundo povoado por humanos famintos, sinto a suprema necessidade. Alguns poderiam perguntar: Necessidade de quê? Ora, de mudança! Responderia eu, sem titubear. Mas, para isso, os corações dos homens não poderiam continuar os mesmos, com suas carapaças embutidas, superficiais e trêmulas, pois, diante, de necessidades maiores, seus mundos de pedras em alto relevo, mais parecem castelinhos de areia movediça.

Sinto um reboliço estranho quando me deparo com seres assim. Seria acaso do destino uma sorte tão traçada, ouvir uma música em pleno meio-dia de um inverno mascarado? Mas, de uma voz sôfrega, confusa, doentia, enfim, com todas as armadilhas cortantes deste sentimento que os humanos denominam, miseravelmente, de amor?

Não falo só da música, mas do estado passivo em que se encontrava o outro, como assim o posso denominar, com a face ligeiramente recostada ao joelho. Pobre miserável, pensei! Fizera-se caricata do amor que o outro cantara ao ar livre, e prisioneiro para sempre da musa que sequer o visitara em suas noites de embriaguez. 

        Assim os ouso imaginar, a partir de um diálogo morno, fluido, sutil, embelezado pelas peripécias dos amantes embriagados das ruas, que outrora, já disseram: "- Sentimental eu sou, eu sou demais!"

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